Conto terapêutico para trabalhar a integração do diferente - Ciclo CEAP

Conto terapêutico para trabalhar a integração do diferente

A Cura pela palavra
28 de maio de 2012
Psicologia – Construindo uma carreira de sucesso
4 de junho de 2012
Exibir tudo

Conto terapêutico para trabalhar a integração do diferente

Deficientes;  Convivência entre irmãos, principalmente se de pais diferentes; Costume de algumas famílias de esconder aquele que apresenta alguma deficiência; Ausência ou deficiência de uma capacidade e o extraordinário desenvolvimento de outras.

O príncipe de um olho só

TEMA: INTEGRAÇÃO DO DIFERENTE

Helena Keller nasceu com três graves deficiências. Ela era surda, muda e cega. A família era abastada e não lhe impunha limites. Cresceu como um bichinho. Até que apareceu uma professora, Ana Sullivan, que realizou o milagre. Conseguiu se comunicar com a garota através do tato. De inteligência privilegiada, Helena Keller tornou-se escritora.

Contos Terapêuticos - O Príncipe de um olho só - Blog Ciclo CEAP - Psicologia

Certo rei ansiava por um filho homem, seu herdeiro no trono. Várias esposas foram repudiadas e substituídas, geravam apenas crianças do sexo feminino.

O palácio ficou cheio de princesas e sem nenhum príncipe.

As princesas viviam brigando entre si. Filhas de diferentes mães, cada uma se julgava no direito de substituir o pai.

O rei se cansara de consultar fadas, bruxas e sábios na esperança de uma solução para o que ele considerava má sorte.

Durante uma caçada, distanciou-se dos companheiros. Cansado, sedento, avistou uma choupana. Foi até lá pedir um pouco d’água. Na porta da cabana estava sentada uma mulher com muitas crianças à sua volta.
O rei lhe perguntou:

– São seus filhos?
– Não, são meus netos, filhos de minhas filhas que estão trabalhando na lavoura, ajudando seus maridos.
O rei reparou que as crianças eram todas do sexo masculino. No mesmo instante ocorreu-lhe uma idéia e perguntou à mulher:
– Suas filhas são todas casadas? Por acaso resta alguma solteira?
– Sim, a caçula, a que me ajuda nos serviços domésticos.

Mal a mulher acabou de responder, apareceu na porta uma linda jovem. O rei encantou-se com a beleza da moça e logo imaginou: se as irmãs tiveram tantos filhos homens, ela naturalmente, também os terá. Daí a pedi-la em casamento, foi questão de poucos minutos. Sincero, não escondeu o que esperava dela: um filho homem.

O nascimento de meninos era um fato tão corriqueiro naquela família que a moça não se preocupou, aceitou o pedido e prometeu-lhe um filho varão.
O casamento realizou-se logo e em alguns meses a notícia da gravidez da jovem rainha foi anunciada aos quatro ventos.

As princesas não se alegraram com a notícia, pelo contrário, ficaram furiosas. Pela primeira vez uniram-se num mesmo objetivo — prejudicar a nova madrasta. Ajudadas por suas mães, teceram um plano. Não agiram abertamente. Fingidas, mostraram-se solícitas. Aparentando cuidados, levavam a todo instante um agrado, um petisco para a jovem grávida. Fizeram-na beber uma infusão que uma feiticeira lhes garantira servir aos seus propósitos.

Na época do parto o rei não esteve presente. O país estava em guerra e ele precisou partir. A criança nasceu, um menino, mas com um único olho, bem no meio da testa.

A mãe ficou decepcionada, chorou demais, temia a cólera do marido quando voltasse.
As princesas deixaram cair a máscara da hipocrisia e, abertamente, criticavam:

– É este o herdeiro que você deu para o nosso pai? – Dizia uma.
– Acha que ele irá aceitar este menino?- Dizia outra.
– Ele mandará matar os dois! – Completava uma terceira.
Temendo pela vida do filho a mãe levou-o para uma velha amiga que morava perto da casa de seus pais, na floresta. Pediu–lhe que cuidasse da criança enquanto decidia o que fazer.
Com o pretexto de visitar a família, via o filho que se desenvolvia como uma criança normal, apesar da deformidade.

Quando o rei voltou, ansioso por conhecer o filho varão, a jovem mãe não encontrou outra solução a não ser fugir com o menino para lugar ainda mais longe.
Caminhando sempre, chegou a uma encruzilhada. Indecisa, preferiu pedir abrigo numa casa próxima. Foi acolhida por uma simpática velha que tranqüilizou a jovem:
-Aqui ninguém virá, todos fogem deste lugar, dizem que sou feiticeira.

A velha ajudou-a a cuidar da criança e, um dia, lhe disse:

– O menino tem um olho só, mas este olho é especial, é capaz de enxergar coisas que ninguém vê e a uma distância que dois olhos normais jamais enxergariam.
O pequeno príncipe de um olho só foi crescendo. Enxergava um pássaro a uma distância enorme. Enxergava, com muita antecedência, uma nuvem que traria chuva. Enxergava até o que se passava na cabeça das pessoas.

O rei não desistira de procurar a esposa que amava e o filho tão desejado. Não acreditara naquela conversa de que o filho nascera com um olho só.

Certo dia, mãe e filho brincavam descuidados. Foram vistos por um dos soldados empenhados na procura dos dois. A mãe rendeu-se ao que julgou ser o destino e foram conduzidos até o rei que os esperava na entrada da cidade.

O rei levou enorme susto ao ver o menino, mas era seu filho e ele o amaria de qualquer maneira.
Contudo, não o queria alvo de chacotas e que sofresse por ser diferente. Na entrada da cidade havia uma torre muito alta. Pensou ser aquele um bom lugar para o filho se livrar de pessoas curiosas.

O tempo foi passando e o príncipe se transformando num rapaz. O rei e a rainha o visitavam com freqüência e se assombravam com as observações do moço. Pela janela da torre ele avistava o palácio e tudo que acontecia dentro dele. Avistava a quilômetros o que acontecia nas estradas que levavam à capital do reino.
Assim, o príncipe dava sempre bons conselhos ao pai, prevenia-o contra os maus auxiliares, sobre quando deveria plantar e colher, sobre as necessidades de seus súditos.

Certo dia, do alto da torre, o príncipe avistou, ainda muito distante, uma grande movimentação. Logo percebeu que eram os soldados de um rei inimigo de seu pai. Mandou avisá-lo e, pela distância em que as tropas ainda se encontravam, o rei teve tempo suficiente de preparar a defesa do palácio.

O príncipe, pela sua capacidade extraordinária de distinguir o que acontecia a longa distância, salvara o reino.

Com o tempo todos tomaram conhecimento das habilidades do rapaz e passaram a amá-lo e a respeitá-lo. Depois desse episódio, não tiveram dúvidas de que seria um digno sucessor do pai.

Não precisou mais se esconder, as pessoas sentiam-se felizes e protegidas. Teriam um rei que via o que as pessoas comuns não enxergavam.

Marilene Lemos* Marilene Lemos é pesquisadora, escritora e contadora de histórias. Faz parte do Grupo “Conto e Encontro” que atua em hospitais, instituições e grupos de convivência. Livros publicados: A Vida Transformada em Histórias, onde fatos da vida real e atual viram metáforas, usando elementos dos contos de fadas tradicionais; Baús de Trocas, livro de contos terapêuticos indicado para a Feira Internacionalde Bolonha e adotado em várias escolas; A Cidade que ficou na Memória, livro de crônicas, dentre outros.

Fonte: Publicação da Rede social Psicologia Viva – www.psicologiaviva.com.br

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.