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Mais da metade da população do mundo vive em uma metrópole e, em 2050, é muito provável que esse contingente chegue a dois terços. Em algumas regiões do planeta os números são impressionantes: as megacidades chinesas, por exemplo, recebem 10 milhões de novos moradores a cada ano. A migração urbana representa uma das transformações ambientais mais drásticas realizadas pelos seres humanos. É preciso questionar: como estamos nos adaptando aos novos espaços?
não é de hoje que psicólogos apontam que a vida nas grandes cidades cobra pedágio emocional. Mais recentemente, estudos indicam que memória e atenção podem ser prejudicadas por ambientes urbanos. Pessoas que moram em metrópoles têm maior propensão a sofrer de ansiedade e depressão; o risco de desenvolver esquizofrenia também aumenta consideravelmente. Pesquisas apontam que a probabilidade de desenvolver algum transtorno emocional grave é duas a três vezes maior em crianças nascidas em ambiente urbano do que em parentes que vivem no interior ou em regiões mais periféricas.
Essas estatísticas podem não surpreender pessoas que diariamente sofrem com o estresse na hora do rush – mas também não são facilmente explicadas. Epidemiologistas descartaram a resposta mais óbvia, ou seja, aqueles com risco de desenvolver distúrbios psíquicos são mais atraídos para os grandes centros. Pesquisadores acreditam que aspectos da vida metropolitana favorecem dificuldades emocionais: barulho, poluição e pressão social em razão da maior concorrência, da fragilidade dos laços e da sensação de não pertencimento a um lugar ou grupo.
Diversas pesquisas sugerem ainda que o estresse social é extremamente desfavorável à saúde psíquica. Um estudo feito pelo Instituto Central de Saúde Mental de Mannheim, na Alemanha, corrobora essa hipótese e apresenta o primeiro mecanismo neurobiológico para explicá-la. Há evidências de que a pressão social da vida urbana compromete circuitos cerebrais relacionados ao esgotamento físico e mental, aos transtornos de humor e a outros distúrbios emocionais.
Em 2011, os pesquisadores registraram a atividade cerebral de 32 estudantes universitários alemães nascidos em metrópoles, cidades medianas ou no campo. De forma deliberada, provocaram estresse nos participantes enquanto tentavam resolver uma série de desafios mentais. Ao entrar no equipamento, cada voluntário visualizava um medidor de desempenho que indicava falsamente a má execução das tarefas em comparação com os outros. Ao mesmo tempo, pedia-se que se esforçasse mais para não estragar a experiência. A artimanha funcionou. Detectamos elevada frequência cardíaca, pressão arterial e aumento dos níveis dos hormônios do estresse nos participantes – após o teste, depois de explicarmos nossa conduta, eles confirmaram que de fato haviam se sentido bastante pressionados.
Como esperado, a vivência estressante ativou diversas áreas do cérebro dos voluntários. No entanto, descobrimos algo que nos surpreendeu: uma região específica, a amígdala, demonstrou maior ativação nos participantes urbanos. A estrutura do tamanho de uma cereja, localizada no lobo temporal, atua como um tipo de detector de perigo, desencadeando respostas de “luta” ou “fuga”, além de regular emoções, como o medo. Observamos em nossa pesquisa que essa área cerebral parecia imune ao estresse entre participantes do campo e demonstrou moderada ativação em pes-soas que viviam em cidades pequenas. Já nos moradores de metrópoles, a pressão sentida sobrecarregou a amígdala.
O mesmo mecanismo pode estar envolvido, pelo menos em parte, no desencadeamento de comportamentos agressivos. A violência em si não é considerada um diagnóstico psiquiátrico pelos cientistas, mas resulta de interação extremamente complexa de fatores – estudos feitos nos Estados Unidos, na Alemanha e em outros países a apontam como um dos maiores problemas urbanos e também a relacionam com a superestimulação da amígdala.
Fonte: Mente e cérebro
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