A Terapia cognitivo comportamental (TCC) é uma forma de psicoterapia que examina a ligação entre a nossa maneira de pensar, como nos sentimos e o que fazemos. Ela se baseia na ideia de que aquilo que sentimos e fazemos é influenciado por aquilo que pensamos.
Na TCC com crianças e adolescentes, os pacientes são ajudados a identificar e questionar a sua maneira prejudicial de pensar. Essas maneiras prejudiciais geralmente provocam sentimentos desagradáveis como o de preocupação, tristeza, raiva e medos exagerados, o que pode interferir no comportamento delas. O objetivo da terapia cognitivo comportamental infantil é que as crianças aprendam maneiras flexíveis de pensar, já que não sofremos pelas situações em si, mas pelas interpretações rígidas que fazemos delas.
Não sofremos pelas situações em si, mas pelas interpretações rígidas que fazemos delas
Um dos primeiros passos da terapia cognitivo comportamental é ensinar as crianças a identificar, reconhecer, nomear e quantificar as diversas emoções que sentimos, com o objetivo que aprender a regular as suas emoções e encontrar novas maneiras de lidar com seus sentimentos desagradáveis.
Trabalhamos com a ideia de que não é a emoção que irá gerar um problema e sim a sua intensidade e o que fazemos enquanto estamos a sentindo, pois a emoção é algo fisiológico, não tem como deixarmos de senti-la. Por exemplo, não tem problema sentir raiva e não tem como deixarmos de senti-la, mas o problema acontece quando sentimos uma raiva muito intensa, cultivamos essa raiva e temos comportamentos agressivos.
Assim, é extremamente importante que as crianças saibam identificar e regular suas emoções para então conseguir escolher a melhor maneira de agir diante de situações desafiantes.
Assim como na TCC com adultos, com o público infantil também os ensinamos a identificar os seus pensamentos, a questionar a veracidade desses pensamentos e a identificar se há outras maneiras mais funcionais e flexíveis de se pensar sobre as questões. Às vezes encontramos crianças que sempre esperam que as coisas dêem errado, o que as leva a se sentir estressadas ou ansiosas diante de uma prova. Ou crianças que pensam que as pessoas não gostam dela ou estão sempre a observando e a criticando, e acabam se sentindo preocupadas e tristes quando têm que apresentar um trabalho na escola, por exemplo. Assim, é de extrema importância que a criança saiba identificar, monitorar e questionar a sua forma de interpretar as situações.
Porém, trabalhar com crianças e adolescentes na clínica pode apresentar alguns desafios. É preciso adaptar as estratégias para a faixa etária e desenvolvimento cognitivo dos pacientes, utilizando de trabalhos manuais, histórias, vídeos e muita brincadeira.
Não podemos nos esquecer que muitas vezes não foram eles que procuraram o atendimento e sim seus pais, o que nos leva a perceber a importância de motivá-los e esclarecê-los da importância da terapia para eles. Outro ponto importante é trabalhar sempre com os contextos nos quais a criança está inserida: casa e escola.
Dependendo do sintoma da criança, muitas vezes o terapeuta cognitivo-comportamental infantil terá que formar parcerias com as escolas, tanto para coletar informações sobre o paciente quanto para orientar os professores. Em relação ao contexto familiar, é indispensável que em qualquer intervenção nessa faixa etária o terapeuta inclua os pais e/ou responsáveis no processo terapêutico, sendo chamando-os para algumas sessões de orientação, seja realizando o Treinamento de Pais.
O Treinamento de Pais é uma forma de psicoterapia na qual a intervenção no filho é feita através dos pais. Os pais comparecem à sessões semanais nas quais são esclarecidos a respeito de formas efetivas de lidar com as dificuldades da criança, tornando-se um co-terapeuta.
Quanto menor a criança e quanto mais problemas externalizantes a criança tiver (agressividade, desobediência, impulsividade ou dificuldade de lidar com frustrações), mais a literatura indica que a intervenção seja feita primeiramente através do Treinamento de Pais ao invés da TCC focada no atendimento da criança.
Já com as crianças com sintomas internalizantes (ansiedade, tristeza excessiva, preocupações, medos, baixa auto-estima), o foco da terapia é na criança e os pais comparecem à sessões periódicas de orientação.