Lá se vão mais de duas semanas de isolamento por causa do coronavirus.
Da varanda da minha casa eu observo os prédios ao redor, imaginando que em cada casa vive uma família, que está reinventando a forma de se relacionar e de enfrentar a angústia e o temor pelo que está por vir. Observo o caminhão de lixo passando na rua, único barulho de motor, exceto uma moto que passa lá longe. Ainda é cedo, mas o movimento não vai ser muito maior. A maioria de nós que está isolada em casa, está distante da realidade de muitos, que continuam trabalhando para que possamos ter assistência médica, comida, remédios, luz, água tratada, lixo recolhido, e tudo mais que nos dá dignidade e o conforto essencial. O sentimento de gratidão é automático no meu peito, com uma tristeza inevitável por saber que muitos não tem acesso a isto, nem na vida normal.
A imaginação segue, entre muitas mensagens que recebo de colegas psicólogos que procuram orientação sobre como ajudar seus pacientes que estão à beira de uma crise nervosa. Procuram também trocar ideias de como não embarcar na onda de negativismo que os deixará fragilizados para ajudar a quem precisa.
Assim como todos, não tenho respostas sobre o rumo que as coisas vão tomar, mas creio que posso ajudar dividindo a minha experiência pessoal.
Tenho clareza de que o exercício da auto hipnose e mindfulness está sendo essencial para manter a minha estabilidade emocional e aumentar a resiliência frente ao desconhecido. Recomendo também as técnicas de controle de ansiedade ensinadas na nossa live “Como trabalhar ansiedade, stress e emergências emocionais em tempos de isolamento”. Vale muito a pena assistir e aplicá-las!
O foco no presente, extraindo o lado bom e o aprendizado que podemos tirar desta situação mantem o meu coração calmo e cabendo dentro do peito. O exercício da gratidão por tudo, com anotações diárias faz a produção aumentada de ocitocina, o neurotransmissor do afeto, que nos traz uma enorme sensação de bem estar.
Procuro estar pelo menos alguns minutos no sol, que além de produzir vitamina D no meu corpo, contribui para a produção se serotonina, essencial para a sensação de bem estar. Se não for possível tomar sol, abra a casa e deixe a luz entrar. Nosso corpo precisa da luz do dia para ficar bem e para que possamos dormir bem à noite, outro fator essencial para o equilíbrio emocional.
Outro item muito importante é cuidar bem da alimentação. Aproveite a oportunidade para cozinhar com presença e amor. É tão raro termos tempo para isto no dia a dia!
Ainda sobre alimentação, um hábito que a meu ver faz muita diferença, é que há anos evito o glúten, e isto me faz muito bem, aumentando a minha energia vital e disposição. Se você experimentar por um mês e sentir a diferença que isto faz, não vai querer consumir mais.
Não posso deixar de mencionar a rotina de exercícios físicos pela manhã, que apesar de não ser minha preferência nas tarefas do dia, é muito importante para fabricação de endorfinas e para produção mental.
No mais, horário para trabalhar e descansar. Estamos em home office no Ciclo CEAP, mas mantemos contato diário com as equipes que cuidam dos cursos, e de toda engrenagem da escola.
São pequenas grandes coisas que fazem uma diferença enorme na qualidade de vida durante o isolamento.
Eu acredito que depois que isto tudo passar, o mundo não será mais o mesmo.
Novas formas de relacionar, novos valores e novas regras de convivência vão surgir como consequência desta experiência mundial, e nós psicólogos temos que estar preparados para ajudar a construir uma sociedade diferente, mais autêntica, mais equilibrada, com mais amor, com mais verdade e auto conhecimento.