Neste artigo pretendemos apresentar as classificações das drogas do ponto de vista legal e seus efeitos.
Drogas Lícitas: São aquelas comercializadas de forma legal, podendo ou não estar submetidas a algum tipo de restrição. Como, por exemplo, álcool (venda proibida a menores de 18 anos) e alguns medicamentos que só podem ser adquiridos por meio de prescrição médica especial.
Drogas Ilícitas: Proibidas por lei. Existe uma classificação – de interesse didático – que se baseia nas ações aparentes das drogas sobre o Sistema Nervoso Central (SNC), conforme as modificações observáveis na atividade mental ou no comportamento da pessoa que utiliza a substância:
Essa categoria inclui uma grande variedade de substâncias, que diferem acentuadamente em suas propriedades físicas e químicas, mas que apresentam a característica comum de causar uma diminuição da atividade global ou de certos sistemas específicos do SNC.
Como consequência dessa ação, há uma tendência de ocorrer uma diminuição da atividade motora, da reatividade à dor e da ansiedade, e é comum um efeito euforizante inicial e, posteriormente, um aumento da sonolência.
O álcool etílico é um produto da fermentação de carboidratos (açúcares) presentes em vegetais, como a cana-de-açúcar, a uva e a cevada. Suas propriedades euforizantes e intoxicantes são conhecidas desde tempos pré-históricos e praticamente todas as culturas têm ou tiveram alguma experiência com sua utilização. É seguramente a droga psicotrópica de uso e abuso mais amplamente disseminados em grande número e diversidade de países na atualidade. A fermentação produz bebidas com concentração de álcool de até 10% (proporção do volume de álcool puro no total da bebida). São obtidas concentrações maiores por meio de destilação. Em doses baixas, o álcool é utilizado, sobretudo, por causa de sua ação euforizante e da capacidade de diminuir as inibições, o que facilita a interação social. Há uma relação entre os efeitos do álcool e os níveis da substância no sangue, que variam em razão do tipo de bebida utilizada, da velocidade do consumo, da presença de alimentos no estômago e de possíveis alterações no metabolismo da droga por diversas situações – por exemplo, na insuficiência hepática, em que a degradação da substância é mais lenta.
O álcool induz tolerância (necessidade de quantidades progressivamente maiores da substância para se produzir o mesmo efeito desejado ou intoxicação) e síndrome de abstinência (sintomas desagradáveis que ocorrem com a redução ou com a interrupção do consumo da substância).
Trata-se de um grupo de substâncias sintetizadas artificialmente desde o começo do século XX, que possuem diversas propriedades em comum com o álcool e com outros tranquilizantes (benzodiazepínicos). Seu uso inicial foi dirigido ao tratamento da insônia, porém a dose para causar os efeitos terapêuticos desejáveis não é muito distante da dose tóxica ou letal. O sono produzido por essas drogas, assim como aquele provocado por todas as drogas indutoras de sono, é muito diferente do sono “natural” (fisiológico).
São efeitos de sua principal ação farmacológica:
• a diminuição da capacidade de raciocínio e concentração;
• a sensação de calma, relaxamento e sonolência;
• reflexos mais lentos.
Esse grupo de substâncias começou a ser usado na medicina durante os anos 60 e possui similaridades importantes com os barbitúricos em termos de ações farmacológicas, com a vantagem de oferecer maior margem de segurança. Em outras palavras, a dose tóxica, aquela que produz efeitos prejudiciais à saúde, é muitas vezes maior que a dose terapêutica, ou seja, a dose prescrita no tratamento médico. Atuam potencializando as ações do GABA (ácido gama-amino-butírico), o principal neurotransmissor inibitório do SNC.
Como consequência dessa ação, os benzodiazepínicos produzem:
• diminuição da ansiedade;
• indução do sono;
• relaxamento muscular;
• redução do estado de alerta.
Essas drogas dificultam ainda os processos de aprendizagem e memória, alteram também funções motoras, prejudicando atividades como dirigir automóveis e outras que exijam reflexos rápidos.
Grupo que inclui drogas “naturais”, derivadas da papoula do oriente (Papaver somniferum), sintéticas e semi-sintéticas, obtidas a partir de modificações químicas em substâncias naturais. As drogas mais conhecidas desse grupo são a morfina, a heroína e a codeína, além de diversas substâncias totalmente sintetizadas em laboratório, como a metadona e meperidina. Sua ação decorre da capacidade de imitar o funcionamento de diversas substâncias naturalmente produzidas pelo organismo, como as endorfinas e as encefalinas. Normalmente, são drogas depressoras da atividade mental, mas possuem ações mais específicas, como de analgesia e de inibição do reflexo da tosse.
Causam os seguintes efeitos:
• contração pupilar importante;
• diminuição da motilidade do trato gastrointestinal;
• efeito sedativo, que prejudica a capacidade de concentração;
• torpor e sonolência.
Esse grupo de substâncias, entre os depressores, não possui nenhuma utilização clínica, com exceção do éter etílico e do clorofórmio, que já foram largamente empregados como anestésicos gerais. Podem tanto ser inalados involuntariamente por trabalhadores como podem ser utilizados como drogas de abuso, por exemplo, a cola de sapateiro. Outros exemplos são o tolueno, o xilol, o nohexano, o acetato de etila, o tricloroetileno, além dos já citados éter e clorofórmio, cuja mistura é chamada freqüentemente de “lança-perfume”, “cheirinho” ou “loló”.
Os efeitos têm início bastante rápido após a inalação, de segundos a minutos, e também têm curta duração, o que predispõe o usuário a inalações repetidas, com consequências às vezes desastrosas.
O uso crônico dessas substâncias pode levar à destruição de neurônios, causando danos irreversíveis ao cérebro, assim como lesões no fígado, rins, nervos periféricos e medula óssea. Outro efeito ainda pouco esclarecido dessas substâncias (particularmente dos compostos halogenados, como o clorofórmio) é sua interação com a adrenalina, pois aumenta sua capacidade de causar arritmias cardíacas, o que pode provocar morte súbita. Embora haja tolerância, até hoje não se tem uma descrição característica da síndrome de abstinência relacionada a esse grupo de substâncias.
São incluídas nesse grupo as drogas capazes de aumentar a atividade de determinados sistemas neuronais, o que traz como consequências um estado de alerta exagerado, insônia e aceleração dos processos psíquicos.
São substâncias sintéticas. Muitas vezes, a denominação “anfetaminas” é utilizada para designar todo o grupo de drogas que apresentam ações semelhantes à anfetamina.
Dessa forma, são exemplos de drogas: “anfetamínicas” o fenproporex, o metilfenidato, o manzidol, a metanfetamina e a dietilpropiona.
Seu mecanismo de ação é aumentar a liberação e prolongar o tempo de atuação de neurotransmissores utilizados pelo cérebro, a dopamina e a noradrenalina.
Efeitos do uso de anfetaminas:
• diminuição do sono e do apetite;
• sensação de maior energia e menor fadiga, mesmo quando se realizam esforços
excessivos, o que pode ser prejudicial;
• rapidez na fala;
• dilatação da pupila;
• taquicardia;
• elevação da pressão arterial.
Uso clínico
Entre outros usos, destaca-se sua utilização como moderadores do apetite (remédios para regime de emagrecimento).
É uma substância extraída de uma planta existente na América do Sul, popularmente conhecida como coca (Erythroxylon coca). Pode ser consumida na forma de pó (cloridrato de cocaína), aspirado ou dissolvido em água e injetado na corrente sanguínea, ou sob a forma de uma base, que é fumada, o crack. Existe ainda a pasta de coca, um produto menos purificado, que também pode ser fumado, conhecido como merla.
Mecanismo de ação no SNC
Seu mecanismo de ação no SNC é muito semelhante ao das anfetaminas, mas a cocaína atua ainda sobre um terceiro neurotransmissor, a serotonina, além da noradrenalina e da dopamina. A cocaína apresenta também propriedades de anestésico local que independem de sua atuação no cérebro. Essa era, no passado, uma das indicações de uso médico da substância, hoje obsoleto. Seus efeitos têm início rápido e duração breve.
No entanto, são mais intensos e fugazes quando a via de utilização é a intravenosa ou quando o indivíduo utiliza o crack.
Efeitos do uso da cocaína:
• sensação intensa de euforia e poder;
• estado de excitação;
• hiperatividade;
• insônia;
• falta de apetite;
• perda da sensação de cansaço.
Fator de risco de infarto e Acidente Vascular Cerebral (AVC)
Mais recentemente e de modo cada vez mais freqüente, têm-se verificado alterações persistentes na circulação cerebral em indivíduos dependentes de cocaína. Existem evidências de que o uso de cocaína seja um fator de risco para o desenvolvimento de infartos do miocárdio e acidentes vasculares cerebrais (AVCs) em indivíduos relativamente jovens. Um processo de degeneração irreversível da musculatura (rabdomiólise) em usuários crônicos de cocaína também já foi descrito.
Nesse grupo de drogas, classificamos diversas substâncias cujo efeito principal é provocar alterações no funcionamento cerebral, que resultam em vários fenômenos psíquicos anormais, entre os quais destacamos os delírios e as alucinações. Por esse motivo, essas drogas receberam a denominação alucinógenos. Em linhas gerais, podemos definir alucinação como uma percepção sem objeto, ou seja, a pessoa vê, ouve ou sente algo que realmente não existe. Delírio, por sua vez, pode ser definido como um falso juízo da realidade, ou seja, o indivíduo passa a atribuir significados anormais aos eventos que ocorrem à sua volta. Há uma realidade, um fator qualquer, mas a pessoa delirante não é capaz de fazer avaliações corretas a seu respeito; por exemplo, no caso do delírio persecutório, nota, em toda parte, indícios claros – embora irreais – de uma perseguição à sua pessoa.
Esse tipo de fenômeno ocorre de modo espontâneo em certas doenças mentais denominadas psicoses, razão pela qual essas drogas também são chamadas psicotomiméticos.
É o nome dado no Brasil à Cannabis sativa. Suas folhas e inflorescências secas podem ser fumadas ou ingeridas. Há também o haxixe, pasta semisólida obtida por meio de grande pressão nas inflorescências, preparação com maiores concentrações de THC (tetrahidrocanabinol), uma das diversas substâncias produzidas pela planta, principal responsável pelos seus efeitos psíquicos. Há uma grande variação na quantidade de THC produzida pela planta conforme as condições de solo, clima e tempo decorrido entre a colheita e o uso, bem como na sensibilidade das pessoas à sua ação, o que explica a capacidade da maconha produzir efeitos mais (ou menos) intensos.
Efeitos psíquicos
• Agudos
Esses efeitos podem ser descritos, em alguns casos, como uma sensação de bem-estar, acompanhada de calma e relaxamento, menos fadiga e hilaridade, enquanto, em outros casos, podem ser descritos como angústia, atordoamento, ansiedade e medo de perder o autocontrole, com tremores e sudorese. Há uma perturbação na capacidade de calcular o tempo e o espaço, além de um prejuízo da memória e da atenção. Com doses maiores ou conforme a sensibilidade individual podem ocorrer perturbações mais evidentes do psiquismo, com predominância de delírios e alucinações.
• Crônicos
O uso continuado interfere na capacidade de aprendizado e memorização. Pode induzir um estado de diminuição da motivação, que pode chegar à síndrome amotivacional, ou seja, a pessoa não sente vontade de fazer mais nada, tudo parece ficar sem graça, perder a importância.
Efeitos físicos
• Agudos
• Hiperemia conjuntival (os olhos ficam avermelhados).
• Diminuição da produção da saliva (sensação de secura na boca).
• Taquicardia com a freqüência de 140 batimentos por minuto ou mais.
• Crônicos
• Problemas respiratórios são comuns, uma vez que a fumaça produzida pela maconha é muito irritante, além de conter alto teor de alcatrão (maior que no caso do tabaco) e nele existir uma substância chamada benzopireno, um conhecido agente cancerígeno.
• Ocorre ainda uma diminuição de até 50% a 60% na produção de testosterona dos homens, e pode haver infertilidade.
Designação dada a diversas drogas que possuem a propriedade de provocar uma série de distorções do funcionamento normal do cérebro, que trazem como consequência uma variada gama de alterações psíquicas, entre as quais alucinações e delírios, sem que haja estimulação ou depressão da atividade cerebral.
• Alucinógenos propriamente ditos ou alucinógenos primários
São os alucinógenos capazes de produzir efeitos psíquicos em doses que praticamente não alteram outra função no organismo.
• Alucinógenos secundários como os anticolinérgicos
São capazes de induzir efeitos alucinógenos em doses que afetam de maneira importante diversas outras funções.
• Plantas com propriedades alucinógenas
Diversas plantas possuem propriedades alucinógenas, como, por exemplo, alguns cogumelos (Psylocibe mexicana, que produz a psilocibina), a jurema (Mimosa hostilis) e outras plantas eventualmente utilizadas na forma de chás e beberagens alucinógenas.
Substância alucinógena sintetizada artificialmente e uma das mais potentes com ação psicotrópica que se conhece. As doses de 20 a 50 milionésimos de grama produzem efeitos com duração de 4 a 12 horas. Seus efeitos dependem muito da sensibilidade da pessoa às ações da droga, de seu estado de espírito no momento da utilização e também do ambiente em que se deu a experiência.
Efeitos do uso de LSD:
• distorções perceptivas (cores, formas e contornos alterados);
• fusão de sentidos (por exemplo, a impressão de que os sons adquirem forma ou cor);
• perda da discriminação de tempo e espaço (minutos parecem horas ou metros
assemelham-se a quilômetros);
• alucinações (visuais ou auditivas) podem ser vivenciadas como sensações agradáveis,
mas também podem deixar o usuário extremamente amedrontado;
• estados de exaltação (coexistem com muita ansiedade, angústia e pânico e são
relatados como boas ou más “viagens”).
– Outra repercussão psíquica da ação do LSD sobre o cérebro são os delírios.
É uma substância alucinógena que guarda relação química com as anfetaminas e apresenta também propriedades estimulantes. Seu uso é freqüentemente associado a certos grupos, como os jovens frequentadores de danceterias ou boates. Há relatos de casos de morte por hipertermia maligna, em que a participação da droga não é completamente esclarecida. Possivelmente, a droga estimula a hiperatividade e aumenta a sensação de sede ou, talvez, induza um quadro tóxico específico. Também existem suspeitas de que a substância seja tóxica para um grupo específico de neurônios produtores de serotonina. Congestão sanguínea em qualquer parte do corpo.
São substâncias provenientes de plantas ou sintetizadas em laboratório que têm a capacidade de bloquear as ações da acetilcolina, um neurotransmissor encontrado no SNC e no Sistema Nervoso Periférico (SNP). Produzem efeitos sobre o psiquismo quando utilizadas em doses relativamente grandes e também provocam alterações de funcionamento em diversos sistemas biológicos, portanto são drogas pouco específicas.
Efeitos psíquicos
Causam alucinações e delírios. São comuns as descrições de pessoas intoxicadas em que elas se sentem perseguidas ou têm visões de pessoas ou animais. Esses sintomas dependem bastante da personalidade do indivíduo, assim como das circunstâncias ambientais em que ocorreu o consumo dessas substâncias. Os efeitos são, em geral, intensos e podem durar até dois ou três dias.
Efeitos somáticos
• dilatação da pupila;
• boca seca;
• aumento da freqüência cardíaca;
• diminuição da motilidade intestinal (até paralisia);
• dificuldades para urinar.