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A senha neuroquímica da satisfação

A senha neuroquímica da satisfação

Uma descoberta recente abriu espaço para que seja considerada uma função muito interessante da dopamina: “contabilizar” quanto bem-estar teremos em determinada situação.

Gláucia Leal

O prazer é a sombra da felicidade”, diz um provérbio hindu, para se referir a esse efeito efêmero da exposição a estímulos sensoriais, estéticos ou intelectuais. Embora intrinsecamente satisfatória, a sensação não se sustenta e, muito rapidamente, tende a se tornar neutra ou mesmo desagradável. Ainda que saibamos disso, a maioria de nós corre atrás dessa vivência, insistindo em repeti-la a todo custo. O fenômeno – comum tanto a seres humanos quanto a outros animais – tem fascinado cientistas e, para aprofundar essa compreensão, pesquisadores de várias partes do mundo têm buscado entender o papel da dopamina, uma substância intimamente associada ao bem-estar. No cérebro, o neurotransmissor funciona como uma espécie de senha para a felicidade.

“Sob a óptica da neuroquímica, a dopamina cria o registro de que a vida valha a pena ser vivida, pois nos permite reconhecer experiências prazerosas”, explica Maia Szalavitz, autora de Unbroken brain: A revolutionary new way of understanding addiction (St. Martin’s Press, 2016, ainda não lançado no Brasil) e do artigo de capa desta edição. 

Diante disso, seria lógico pensar que precisamos de dopamina para alcançar uma vida melhor, mais plena. Certo? Nem tanto. Essa ideia é controversa e cada vez mais cientistas concordam que o neurotransmissor não define neurologicamente o prazer. “Mas a molécula pode desvendar o mistério intricado daquilo que nos move”, afirma Szalavitz. 

Uma descoberta recente abriu espaço para que seja considerada uma função muito interessante da dopamina: “contabilizar” quanto bem-estar teremos em determinada situação. “O neurotransmissor codifica a diferença entre o que estamos obtendo e o que esperávamos”, diz o neurologista Wolfram Schultz. No ano passado, seus estudos revelaram que embora a dopamina não avalie com precisão “quanto” uma experiência será agradável, pode determinar seu valor para o organismo naquele momento. Essas descobertas levam os cientistas a compreender que a sensação de prazer começa antes da vivência propriamente dita. 

Os estudos também possibilitaram o estabelecimento de relações do papel da dopamina na fixação de memórias, no aprendizado, nas dependências (de comida, jogo, drogas etc.) e até mesmo em sintomas da doença de Parkinson. Ou seja: a investigação trouxe desdobramentos até há  pouco tempo impensados – o que, aliás, é ótimo. 

Esta matéria foi publicada originalmente na edição de março da Mente e Cérebro.

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