A infância é um estágio fundamental no desenvolvimento psicológico e emocional. A interação com nossos pais e todas as suas decisões afetam a nossa visão de nós mesmos e do mundo. Portanto, embora muitas vezes não tenhamos consciência dos danos causados em nossos primeiros anos, certas experiências, como o abandono parental, podem deixar consequências e marcas profundas.
Depois de crescer, muitos dos que passaram por essa provação podem dizer que o impacto sobre eles foi leve ou que o superaram. Porém, basta observar suas atitudes, pensamentos e comportamentos para ver como esse abandono continua em suas sombras. Para ficarmos atentos ao que está acontecendo, apresentaremos as principais sequelas que podem ser detectadas nesses casos.
Antes de listar as consequências do abandono parental, é importante saber do que se trata. O fato é que não se pode considerar abandono parental a ausência de um dos pais que nunca esteve presente, por exemplo, no caso de mães solteiras por opção. Da mesma forma, em uma família composta por dois pais ou duas mães, não se pode dizer que haja algum tipo de abandono, ainda que não exista uma figura do gênero oposto.
Além disso, foi demonstrado que crescer neste tipo de família não acarreta nenhuma desvantagem para a criança em relação às que crescem em famílias heteroparentais.
Portanto, o abandono parental ocorre quando um dos pais (homem ou mulher), que em algum momento fez parte da vida do filho, se ausenta. O termo não apenas designa os casos em que o pai ou a mãe saem fisicamente da vida do filho, mas também se refere ao abandono simbólico que ocorre quando o pai, apesar de estar presente, não se vincula emocionalmente, negligencia o cuidado da criança, está continuamente ocupado com outros assuntos e está, em suma, emocionalmente ausente.
As consequências desse abandono, reais ou simbólicas, podem ser graves e afetar principalmente o emocional. Além disso, embora geralmente comecem a se manifestar durante a infância, muitas vezes persistem na idade adulta, talvez em um nível inconsciente. Essas consequências são, principalmente, as seguintes.
As crianças costumam se culpar pela partida do pai que as abandonou. Podem sentir que não têm valor suficiente, visto que o pai ou a mãe não demonstrou interesse nelas ou em ficar ao seu lado, mas também podem pensar que fizeram algo de errado que desencadeou o abandono.
Assim, elas crescem com um enorme sentimento de culpa e baixa autoestima. Se a pessoa que mais deveria me amar no mundo optou por não ficar ao meu lado, devo ser muito ruim ou ter pouco valor. Este é um pensamento lógico na situação que descrevemos e que pode causar danos muito difíceis de reparar.
Em uma pessoa que sofreu abandono parental, também é comum que apareçam problemas na criação de um vínculo emocional com outras pessoas.
A desconfiança e o receio da criança se direcionam, em primeiro lugar, ao progenitor que cuida dela. No entanto, é possível que essas emoções sejam extrapoladas para outras relações familiares, amizades ou vínculos de qualquer natureza, impedindo que se desenvolvam normalmente.
Esta é, sem dúvida, a principal consequência da qual derivam as sequelas mais importantes. A criança abandonada cresce com medo de que o resto das pessoas em seu ambiente também a abandonem. Isso pode acontecer ou não, mas a mera antecipação dessa possibilidade gera uma grande angústia. Um medo que pode torná-la muito submissa e dependente, extremamente complacente e pouco assertiva.
Além do exposto, é comum a ocorrência de problemas escolares, tanto acadêmicos quanto comportamentais. Essas crianças também terão um risco maior de desenvolver vícios e muitos outros distúrbios psicológicos. Além disso, manterão atitudes mais rígidas e terão dificuldades de adaptação às mudanças que podem ocorrer em suas vidas.
Se não encontrarem contenção, apoio e segurança necessários para processar o abandono no ambiente imediato, isso continuará pesando na sua evolução para a idade adulta. Pessoas relutantes em se relacionar emocionalmente, excessivamente ansiosas, com medo de perder o afeto dos outros e com baixa autoestima são especialmente vulneráveis aos efeitos desse abandono.
Assim, uma terapia psicológica voltada para a ressignificação da experiência pode ser de grande ajuda para deixar para trás o peso e os aprendizados errôneos do passado, mesmo aqueles ocorridos na infância.