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Cognição e esquizofrenia

Já no primeiro episódio da patologia os prejuízos são amplos e sérios, similares aos observados em pacientes doentes há algum tempo; a conclusão reforça a necessidade de diagnóstico precoce para diminuir sequelas

A deterioração da capacidade intelectual de pessoas com esquizofrenia não se dá, necessariamente, ao longo da vida – como durante muito tempo os especialistas acreditaram. Problemas cognitivos graves e generalizados parecem existir já na fase inicial da doença, o que torna difícil para as pessoas com esse transtorno realizar tarefas cotidianas, como trabalhar e estudar. A conclusão é de um novo estudo publicado pela Associação Americana de Psicologia (AAP). Entender os problemas cognitivos centrais e precoces pode ajudar os clínicos a diagnosticar com mais precisão a esquizofrenia incipiente, diferenciando-a de outros transtornos neuropsiquiátricos que também levam a distúrbios cognitivos, como o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Combinar os sinais de alerta cognitivos da esquizofrenia com o histórico familiar e os sinais de piora gradativa das funções diárias também pode ajudar especialistas a obter um diagnóstico precoce, o que em muitos casos previne problemas.

Essa é uma das principais conclusões de uma investigação conduzida por pesquisadores da Escola de Medicina de Harvard e da Universidade Médica do Alto do Estado Suny, ambas em Nova York. Os cientistas examinaram 47 estudos publicados, duplamente revisados, sobre primeiros episódios de esquizofrenia; participaram 2.204 pacientes e 2.775 pessoas no grupo de controle, de ambos os sexos, com idades variadas, e os resultados foram publicados pela Associação Americana de Psicologia no periódico científico Neuropsychology.

“O primeiro episódio da psicopatologia, que ocorre em geral por volta dos 20 anos, traz sentimentos de grande terror, trauma e choque, junto com uma desorganização cognitiva proeminente, que aumenta a incidência de pensamentos perturbadores e/ou paranoicos com alterações perceptivas”, escrevem os coautores Raquelle Mesholam-Gately, Ph.D., e Anthony Giuliano, Ph.D., coordenadores do estudo. Os autores perceberam que pessoas com esquizofrenia apresentavam um período de risco antes do início das crises, com duração de alguns meses a dois anos, no qual tinham problemas crescentes na vida cotidiana, que culminavam na patologia completa. A preocupação dos especialistas agora é detectar a doença antes mesmo que surjam alterações profundas de comportamento ou alucinações auditivas e visuais. Segundo Mesholam-Gele, a intervenção precoce para os problemas cognitivos pode diminuir a intensidade e duração, permitindo prognóstico mais favorável, menores taxas de recaída e melhor preservação de habilidades sociais e cognitivas. O período de alto risco, ou prodômico, é o novo foco de prevenção, diagnóstico e tratamento. Os testes cognitivos também podem ajudar crianças mais velhas que apresentam histórico familiar de esquizofrenia e sintomas clínicos emergentes. Quando médicos, psicólogos e educadores observam algum prejuízo intelectual, costumam pensar em algo como TDAH, mas os pesquisadores dizem que as novas descobertas podem aumentar a importância do histórico familiar (considerando que a esquizofrenia tem componente genético), favorecendo assim a caracterização dos sintomas clínicos de comportamento, especialmente próximo à idade de maior risco.

Os pesquisadores detiveram-se em descobertas comuns feitas em dez áreas de neurocognição, incluindo habilidades gerais, atenção, memória e capacidades motoras, verbais e capacidades de percepção espacial. Eles perceberam, por exemplo, que já no primeiro episódio da patologia os prejuízos cognitivos eram amplos e sérios, similares ou iguais em severidade aos problemas observados nos pacientes que já estavam doentes havia algum tempo. Pessoas que apresentavam o primeiro episódio de esquizofrenia tinham desempenho significativamente pior em todas as tarefas cognitivas, em comparação com os integrantes do grupo de controle, compatíveis em sexo e idade. Os pacientes tinham mais problemas com a velocidade de processamento de informações, aprendizado verbal e memorização.

Embora muitas doenças neurológicas e psiquiátricas, como o transtorno bipolar, afetem a velocidade de absorção e fixação, a esquizofrenia parece causar um prejuízo mais profundo. A medida do quociente de inteligência (QI) e de outras habilidades cognitivas caiu mais entre o chamado período de risco, que ocorre pouco antes do aparecimento dos sintomas e das primeiras fases agudas. Depois disso, as habilidades de raciocínio se tornaram estáveis. Esse padrão intelectual, combinado com outros sinais, como os sintomas clínicos e o histórico familiar, pode sugerir diagnóstico de esquizofrenia.

Hoje, não existem tratamentos efetivos para os problemas cognitivos na esquizofrenia. Recentemente, nos Estados Unidos, o Instituto Nacional de Saúde Mental financiou duas iniciativas para desenvolver padrões de avaliação para cognição em pacientes com a patologia com o objetivo de testar medicamentos que podem ser indicados nesses casos.

Fonte: Mente e Cérebro

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