Embora a doença de Alzheimer seja atualmente irreversível e incurável, é possível tratar os sintomas. Perante a inexistência de cura, o tratamento tem como objetivo retardar a evolução dos sintomas, não só do foro cognitivo, mas também atuando sobre as alterações comportamentais (ex. agitação e a agressividade) e alterações do humor (ex. depressão, apatia) que surgem como consequência do declínio cognitivo.
O tratamento é feito com recurso a medicação e complementaridade com outras terapias que assumem igual importância.
A terapêutica farmacológica (medicamentos ou remédios) visa colmatar o desequilíbrio químico na atividade cerebral causado pela doença de Alzheimer visando a estabilização do seu funcionamento. Esta poderá incidir sobre dois focos: o tratamento dos sintomas cognitivos decorrentes da doença (declínio do funcionamento da memória, raciocínio, linguagem) e sobre as manifestações de alteração de humor e de comportamento que surgem como consequência do declínio do funcionamento cognitivo.
É importante ter em consideração que os fármacos podem atenuar alguns sintomas cognitivos e comportamentais, contudo não modificam a trajetória progressiva da demência.
A prescrição farmacológica deverá ser feita por um médico especialista em neurologia e/ou psiquiatria, perante o diagnóstico rigoroso da doença de Alzheimer.
Atendendo ao carácter permanente e não curável da doença de Alzheimer, ou seja, à sua tipologia crónica, é crucial adotar uma abordagem integrada que abranja a pessoa com demência e também os seus familiares mais próximos, prestando cuidados e suporte não só ao doente, mas também à família que cuida e acolhe.
Como já descrito anteriormente, a terapêutica farmacológica tem um papel fundamental para a estabilização dos doentes que começam a sentir défices de memória. Simultaneamente, a intervenção não farmacológica tem evidenciado bons resultados na manutenção das capacidades funcionais diárias e melhorias cognitivas.
Neste tipo de intervenção, em complementaridade com outros profissionais (ex. médico, enfermeiro, terapeuta ocupacional), o psicólogo assume um papel fundamental na prevenção e tratamento, na medida em que a sua ação terá como objetivo reduzir ao máximo, tanto quanto possível, obstáculos presentes na vida do indivíduo com doença de Alzheimer.
De seguida, enumeramos alguns tipos de intervenção a usar na doença de alzheimer.
1. Reabilitação neuropsicológica
A reabilitação neuropsicológica consiste numa intervenção abrangente uma vez que engloba no tratamento o funcionamento cognitivo, mas também as alterações de comportamento e do funcionamento emocional, com vista a melhorar a qualidade de vida dos doentes e familiares.
O seu principal objetivo passa por ajudar o doente e a sua família a lidar, conviver, contornar e superar os danos que a doença de Alzheimer provoca, não só ao nível cognitivo, mas também ao nível dos comportamentos e do estado emocional do doente.
Este tipo de intervenção foca-se, sobretudo, nas funções preservadas (parcial ou totalmente) para se desenvolverem estratégias compensatórias que possam fazer face às perdas observadas e minimizem os danos e o impacto na vida do doente, uma vez que recuperar a função cognitiva afetada não é possível.
A reabilitação neuropsicológica implica que seja realizada uma avaliação rigorosa e completa dos domínios comportamental, emocional e cognitivo, através de entrevista e da aplicação de testes e instrumentos psicométricos validados. Uma vez realizada a avaliação, a reabilitação neuropsicológica pode englobar várias componentes de intervenção, tais como: a reabilitação cognitiva, psicoterapia; intervenção com famílias e com pacientes em ambiente seguro; intervenção psicoeducativa.
2. Reabilitação Cognitiva
A reabilitação cognitiva consiste numa componente da reabilitação neuropsicológica e assume um carácter crucial, nomeadamente na fase inicial da doença de Alzheimer; é nos estádios iniciais, em que o declínio cognitivo acontece a um ritmo lento, que é fundamental tentar manter o doente nesta fase tanto tempo quanto possível.
Na reabilitação cognitiva os pacientes e os seus familiares trabalham em conjunto com os profissionais de saúde com o objetivo de restituir ou compensar os défices do funcionamento cognitivo provocados pela demência, através de programas de treino e de estimulação cognitiva, melhorando o funcionamento do sujeito no seu dia-a-dia.
Em fases mais avançadas, em que se regista declínio acentuado do funcionamento cognitivo, os cuidados clínicos passam por intervenção psicoeducativa, técnicas específicas como terapia de reminiscência e terapia de validação.
3. Estimulação sensorial
Perante as alterações de comportamento e de humor a que indivíduos com doença de Alzheimer estão sujeitos, sobretudo em fases mais avançadas da doença, a estimulação sensorial tem-se revelado benéfica na medida em que induz o bem-estar e o relaxamento do doente.
Existem várias técnicas de estimulação sensorial, com a musicoterapia, a estimulação multissensorial Snoezelen, e outros tipos de estimulação como a visualização de imagens, cheiros, exploração de sons da natureza, entre outros.
4. Intervenção psicoeducativa
Tratando-se de uma demência altamente incapacitante e que tende a encurtar a duração da vida do doente, a doença de Alzheimer traz consigo a necessidade de se proceder a diversas modificações das rotinas tanto do doente como dos seus familiares e/ou cuidadores.
O papel dos cuidadores na doença de Alzheimer é fundamental pelo que se torna igualmente fundamental para o cuidador ter suporte e conhecer e educar-se acerca das alterações de humor e de comportamento dos pacientes com doença de Alzheimer.
Neste contexto, as intervenções psicoeducativas assumem uma enorme relevância ao integrarem duas componentes no foco da sua intervenção: o apoio educativo e informativo sobre a doença e o apoio psicossocial, que resultam num aumento do sentido de competência e de capacidade das famílias para lidar eficazmente com a doença e com as situações desafiantes, reduzindo o stresse e o desgaste psicológico dos cuidadores.
Além da componente educativa, os grupos psicoeducativos são também grupos de suporte na medida em que facilitam, a cada cuidador, a empatia e a compreensão pela situação que estão a viver, permitindo a troca de experiências, estratégias e, não menos importante, a partilha dos momentos mais desafiantes que vão surgindo no dia-a-dia do cuidador de um doente de Alzheimer.
Estes grupos representam uma oportunidade de partilha de informação sobre a doença, serviços, recursos comunitários disponíveis e estratégias para promover uma eficaz gestão emocional.
5. Estratégias compensatórias para indivíduos com doença de Alzheimer
Trata-se de uma abordagem usada na reabilitação cognitiva e baseia-se no princípio de que os indivíduos conseguem compensar os défices sentidos através da aplicação de estratégias, quer externas como internas, que permitem organizar a informação aprendida e de relacionar essa mesma informação com outra já armazenada. Seguem-se algumas estratégias:
Criação hábitos e rotinas: Tendo em conta que a capacidade de aprender e memorizar informação recente está comprometida, criar hábitos na vida de um paciente com doença de Alzheimer irá permitir desenvolver outras capacidades que possam compensar as capacidades perdidas. (Ex.: se a pessoa deixa de ser capaz de saber o dia da semana / do mês, criar o hábito de diariamente consultar o calendário depois do pequeno-almoço, poderá ser uma estratégia facilitadora da orientação do paciente.
Métodos de armazenamento de informação: Usar auxiliares de memória como uma lista, um calendário, um quadro, uma imagem identificativa pode ajudar o doente de Alzheimer a preservar a sua capacidade funcional durante um maior período de tempo.
Métodos que avisam e recordam: O uso de agendas eletrónicas, relógio com alarme, telemóvel ou tocar uma música podem facilitar a recordação de um evento que tenha de acontecer (ex.: fazer a toma da medicação, …);
Métodos de organização e modificação do ambiente: Uma forma de lidar com as alterações de humor e de comportamento de um doente com doença de Alzheimer é acomodá-lo ao ambiente em que se insere. Simplificar o espaço, torná-lo de simples orientação e utilização para o doente pode ajudar a reduzir a manifestação de comportamentos desafiantes já que a sua maioria traduz necessidades que o doente tem e não é capaz de expressar.
O diagnóstico da doença de Alzheimer gera na família um enorme sentimento de frustração e revolta. Muitas vezes, tem de se lidar com a ambiguidade de o familiar estar presente fisicamente, mas já não se encontrar ali no que respeita à esfera emocional. É necessário acolher a doença e aceitá-la, aprendendo a lidar com a mesma da forma mais ajustada possível.
Neste sentido, procurar informação sobre a doença, sobre as suas manifestações e sobre os tipos de tratamento existentes é fundamental para que se possa preservar a qualidade de vida do indivíduo com Doença de Alzheimer e da família.
A intervenção não farmacológica, nomeadamente a reabilitação cognitiva, além do treino cognitivo e preservação das funções preservadas, dotará o doente e os seus familiares de estratégias e ferramentas úteis para o dia-a-dia de um doente com doença de Alzheimer.
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Fonte: saudebemestar.pt