RAFAEL GARCIA
DE SÃO PAULO
Todos sabem recitar a regra popular sobre a mente de homens e mulheres: enquanto o cérebro masculino é bom para ação motora e visão espacial, o feminino supera em linguagem e sociabilidade. Essa estereotipagem ainda é debatida, mas neurocientistas oferecem agora evidências físicas a favor da teoria.
Um estudo feito na Universidade da Pensilvânia indica que homens têm ênfase maior que mulheres nas conexões entre os neurônios dentro de cada hemisfério cerebral. E mulheres, por sua vez, têm em média mais conectividade entre um hemisfério e outro (veja quadro abaixo).
Segundo artigo dos cientistas na revista “PNAS” , essa diferença coincide com o tipo de funcionalidade cerebral associada às habilidades mais femininas e mais masculinas. O mapeamento de conectividade cerebral feito pelo grupo usou a ressonância magnética por difusão, uma técnica capaz de enxergar mechas finas de axônios, os “cabos” que conectam os núcleos dos neurônios.
Outros estudos já mostravam algumas diferenças que existem entre cérebros de homens e mulheres “mas não explicavam essa complementaridade” de habilidades, afirma o texto do artigo. O trabalho foi liderado pela neurocientista Ragini Verma e assinado por mais nove colegas.
Para chegar à conclusão, os cientistas submeteram 949 pessoas de 8 a 22 anos de idade ao mapeamento por ressonância magnética. A conclusão do estudo, apesar de fraseada de modo diferente, remete ao tipo de divisão de habilidades psicológica incorporado à cultura popular.
“Cérebros masculinos são estruturados para facilitar a conectividade entre ação coordenada e percepção”, diz Verma, “enquanto cérebros femininos são projetados para facilitar a comunicação entre os modos de processamento intuitivo e analítico”.
NATUREZA E CRIAÇÃO
As diferenças mais acentuadas no novo estudo de mapeamento cerebral, porém, só foram vistas em adultos, afirmam os autores do trabalho. Meninas e meninos não exibiam, em média, a disparidade anatômica que foi vista em homens e mulheres. Isso abre espaço para que a origem das diferenças seja cultural e não de nascimento.
Outras diferenças anatômicas vistas pelo estudo de Verma já eram conhecidas. Uma delas é o fato de mulheres possuírem mais massa cinzenta (parte do cérebro que concentra núcleos de neurônios) do que homens, em relação ao tamanho de seu cérebro. Eles, por sua vez, têm mais massa branca (composta de axônios, os “cabos” que conectam neurônios).
Essa distinção, contudo, não parece ter relação com comportamento. E os estudos cognitivos nos quais Verma encaixa suas descobertas anatômicas, além disso, não parecem ser ainda consenso firme entre pesquisadores.
“A evidência que eu conheço é que, quando existem diferenças quantitativas, elas são mínimas e têm uma influência cultural gigantesca”, afirma a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, professora da UFRJ. “A cultura indica a expectativa, porque o estereótipo é essencialmente incutir expectativas diferentes em meninos e meninas.”
Verma, porém, defende a correlação apontada pelo estudo, que usou um mapeamento de última geração em uma amostra de voluntários com tamanho inédito.
Fonte: Folha de São Paulo
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