Jung definiu como individuação o processo pelo qual o ser humano chega ao autoconhecimento, e é levado a estabelecer contato com o inconsciente, não só o inconsciente pessoal, integrando as sombras, mas também o inconsciente coletivo.
Nesta integração, o que se faz é sempre a separação do que é consciente daquilo que é ‘não consciente’. Para integração dos arquétipos torna-se necessário fazer essa distinção, caso contrário, os conflitos continuam ou se intensificam. O objetivo desse processo ou sua etapa final, é a chegada ao self, ao centro da personalidade. Quando chega a esse centro o ser humano se realiza como individualidade, como personalidade.
O self que se apresenta como um projeto desde o início de nossa vida, é o modelo do ser humano completo, a matriz de todo progresso do ser, o padrão segundo o qual se desenvolvem as características da individualidade de cada um. Sua apresentação desde o início da vida se realiza através dos sonhos das crianças, sonhos em que aparecem imagens arquetípicas desse centro, ou seja, os símbolos do self.
A chegada ao self é, muitas vezes precedida por angústia ou muita ansiedade, à qual todo terapeuta deve estar atento. Essa ansiedade está associada à aquisição de uma consciência de si mesmo, que o indivíduo está atingindo.
Aquele que ouve e dá atenção à grande tensão interior que precede o processo de autoconhecimento; terá a chance de alcançar as profundezas do seu ser, e ‘integrar’ a vivência dos arquétipos de forma consciente.
A individuação geralmente é desenvolvida através de um processo terapêutico, mas também pode acontecer de forma natural. Não é impossível que alguns cheguem a realiza-la sozinhos. Muitos homens altamente significativos para seu tempo chegaram a uma personalidade que nos parece completa sozinhos, para o que é necessária uma ampla e intensa vivência interior.
A chave nesse processo é jamais ignorar os sentimentos, enfrentar as angústias, os medos e as dificuldades com coragem, buscando a raiz, a fonte de onde se originam tais problemas. Esse processo de investigação interior pode ser feito através de vários instrumentos como a terapia psicológica, que pode incluir a regressão à infância (ou mesmo à fase intrauterina), a consulta a oráculos como forma de trazer à tona os conteúdos inconscientes, a meditação, processo pelo qual se realiza a conexão com o Eu superior, aquela dimensão do ser que transcende o ego, que tudo sabe e compreende, pois é onde reside a sabedoria divina em nós.
Apesar de doloroso, o processo de individuação é o que nos libertará de uma vida massificada, totalmente dominada pelo ego, em que seguimos o pensamento da maioria, sem qualquer escolha pessoal. A tomada de consciência é essencial, mas não é tudo, ela nos torna mais responsável por nós mesmos e por nossos atos, e a partir daí cabe a cada um decidir se vai aceitar ou não essa responsabilidade.
Atingir o self não significa chegar à perfeição, mas sim ter uma visão realista de si mesmo, e o entendimento de que o progresso interior é algo a ser trabalhado durante toda a vida, pois novos desafios surgirão o tempo todo durante a nossa existência.
Porém uma personalidade integrada enfrentará esses desafios com muito mais coragem, discernimento, equilíbrio e serenidade.
Autor: Elizabeth Cavalcante