Certa vez, já há bastante tempo, em uma conversa com um grupo de amigos em que cada um falava animadamente sobre as coisas que tinha medo, eu falei que o meu temor era barata. E é verdade! Nunca considerei que fosse um medo que me paralisasse, ou que prejudicasse a minha vida de forma intensa, mas realmente eu não gosto de conviver com este ser que, para mim, é bastante repulsivo.
Mas quando eu revelei naturalmente e divertidamente este fato ao grupo, uma amiga logo me disse: “Mas como uma psicóloga pode ter medo de barata? Eu pensei que por ser psicóloga você fosse perfeita, que nada te perturbasse!”
No mesmo instante senti, como em muitas outras situações, o peso da expectativa de perfeição machucando meus ombros, e um sopro no ouvido me dizendo que eu deveria pensar melhor antes de expor minhas “fraquezas”.
Minha imaturidade na época fazia com que eu também alimentasse a cobrança das pessoas de que psicólogo tem que ser perfeito, psicólogo não sofre, psicólogo não tem problemas, psicólogo não pode ter medo, psicólogo sabe como lidar perfeitamente com todas as situações da sua vida.
Tenho observado ao longo dos anos que oriento inúmeros psicólogos no seu exercício profissional, que a expectativa de perfeição é um dos maiores fardos que eles carregam.
Psicólogo chorando? “Impossível!”
Psicólogo perdendo a paciência? “Esse não deve ser bom!”
Psicólogo sem saber o que fazer? “Ah, isso não existe!”
Psicólogo em mesa de bar… Sempre tem um para dizer: “Diga aí o que você já analisou sobre mim!”
E por aí vai… O peso acumulando, nossa humanidade sem direito de expressão, nossa profissão sendo exercida 100% do tempo!
Hoje, depois de muitos anos de estrada profissional, já assimilei como verdade a resposta que eu deveria ter dado àquela amiga que me condenou por eu não gostar de barata:
– Psicólogo não é aquele ser sem problemas, medos e inseguranças! Psicólogo é aquela pessoa que estudou sobre o ser humano 5 anos no mínimo, e por isso é capaz de lidar com mais consciência com suas próprias limitações por conhecê-las melhor. Tendo consciência de si mesmo, pode ajudar as outras pessoas a se conhecerem também, para que possam lidar melhor com suas singularidades, seus medos e desafios.
Portanto colega, livre-se do peso que colocam nos seus ombros, ou melhor, que deixamos que coloquem! É nosso dever educar a sociedade sobre o que consiste nosso trabalho e colocar os limites necessários!
Não precisamos de dor nas costas!
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