As mamães têm seu dia festejado no Brasil desde 1932 pelo Decreto de Getúlio Vargas. Porque se lembraram dos papais apenas a partir de 1953?
Tudo bem, antes tarde…
Corrigida a injustiça, no segundo domingo de agosto, muitos pais ficam na expectativa: presentes, almoço especial, paparicos. Na véspera, shoppings e supermercados intransitáveis. No domingo, mesas alegres lotando as churrascarias, pizzarias e similares da cidade. Eles adoram, mesmo que a conta venha na fatura do seu próprio cartão.
Falo dos pais “lado A do disco”, aqueles com P maiúsculo.
No lado B estão os outros. Afinal, existe pai de todo perfil, vários níveis de atuação e serventias.
Nos ônus e bônus é que está a diferença. Alguns se desdobram em fibras e mais fibras, sofrendo no paraíso. Outros, nem pagam a pensão. Mas todos contribuíram com os matematicamente exatos 50% dos genes.
Antes dos genes serem conhecidos, a participação masculina na responsabilidade pela gestação e pela cria passou por alterações no caminhar humano. Os diversos bandos de nômades que habitavam nosso planeta no passado observavam admirados as fêmeas retirarem do ventre inchado uma nova criatura.
Não imaginavam que havia sua fundamental participação 9 meses antes. Com esta “magia”, ainda desconhecida, o matriarcado estava garantido!
As mulheres eram consideradas deusas poderosas, e mereciam por isto respeito e reverências. No conhecimento da época, eram responsáveis únicas pelos novos seres humanos. Pena que a supremacia durou pouco. Quando esses povos nômades se fixaram, praticando a agricultura e a domesticação de animais, surgiu a verdade inquestionável: cabras apartadas dos machos não davam cria.
Foi então que eles perceberam por analogia a sua essencial participação e viraram o jogo. O resultado foi o Patriarcado e o poder masculino. Foi o primeiro tiro, ou paulada, ou flechada na interminável Guerra dos Sexos.
Como a terra fornecia apenas os nutrientes para o desenvolvimento da semente, a mulher foi rebaixada à função de simples nutriz, antes e depois de fabricar o novo espécime.
Se o homem fornecia a semente, e a mulher somente o desenvolvia por 9 meses, o filho pertencia somente ao homem, e era seu herdeiro. Porém somente o casamento monogâmico poderia garantir a sua legitimidade. Só em 1827, a ciência anunciou a existência do óvulo feminino e o consequente reconhecimento de investimentos iguais no projeto de perpetuação da espécie humana.
Entretanto, os padrões sociais seguiram destacando o pai como proprietário da família, o chefe, o provedor que mandava e desmandava, a quem era reservado o “peito do frango”, e a palavra final, à qual a mãe podia recorrer: “Vou contar pro seu pai!”. Parece que o patriarca seguia a concepção do Deus-Poder , sempre exigente e pronto a castigar.
Com a evolução da sociedade, e maior autonomia e empoderamento feminino, já era tempo dos pais mudarem de figurino para seguir o modelo do Deus-Amor, protetor e amigo. Pai deve estar presente na vida do filho, orientando-o sem colocar-lhe amarras. Dá gosto ver essas novas gerações de pais trocando fraldas, fazendo mamadeiras, carregando o filho às costas.
O pai do passado desculpava-se: minha esposa encontra-se em “estado interessante”.
O pai atual anuncia orgulhoso: estamos grávidos… enquanto lustra a barrigona da mamãe.
Esses sim, pais que foram resultado de uma longa caminhada histórica de consciência, podemos chamar de “PAIS DE VERDADE”.
Marilene Guzella Martins Lemos – Aluna Ciclo CEAP, escritora e contadora de histórias, Presidente da Arcádia, Presidente das Amigas da Cultura, Membro da Academia Feminina Mineira de Letras e Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais