Uma das questões que mais ouço como orientadora de psicólogos no Ciclo CEAP é sobre a dificuldade de se cobrar um valor justo pelos serviços psicológicos, sendo que um dos principais motivos que têm levado as pessoas aos consultórios psicológicos são os sintomas decorrentes da falta de dinheiro e perspectivas profissionais.
Esta é uma questão delicada, e necessita de muita conscientização de nossa parte sobre o valor que realmente atribuímos ao nosso trabalho.
Tenho observado que muitos psicólogos misturam sua necessidade de contribuir socialmente para o mundo de forma voluntária, com o trabalho que fazem profissionalmente. A meu ver, dificuldade de cobrar adequadamente passa por esta separação, e clareza sobre este assunto.
Outro motivo igualmente relevante é a baixa autoestima profissional que muitos psicólogos têm, que ainda reflete uma condição de pouca valorização da profissão pela sociedade, que predominava há até bem pouco tempo. Felizmente esta situação já mudou consideravelmente!
Se você tem o sonho ou a necessidade de contribuir com um trabalho social usando suas habilidades de psicólogo, nada é mais louvável! Mas estabeleça critérios para isto. Uma sugestão é estabelecer sua agenda de trabalho, com os horários definidos de voluntariado, horários de valores reduzidos, e horários de valores normais. Seu valor normal deve ser justo, considerando seu tempo de experiência e sua formação. Aconselho que não subestime seu valor, nem cobre algo fora da realidade.
E para a questão da autoestima, lembre-se que seu trabalho é muito relevante para a construção de uma sociedade harmônica e equilibrada, e que este trabalho está cada dia mais reconhecido e valorizado.
Considere que, exceto em casos de evidente carência, onde o cliente vai investir seu dinheiro é uma questão de prioridade. Muitas pessoas deixam de adquirir bens materiais para investir em uma terapia. Outras dizem que não podem pagar o valor do psicólogo, mas não abrem mão de seus gastos habituais. Isto não é justo!
Se a pessoa precisa de uma terapia, e realmente ela não pode pagar seu valor normal, ela deve saber claramente qual ele é, e se adaptar, talvez a um horário menos concorrido no consultório, ou mesmo compensar a diferença com uma permuta do serviço ou produto que ela oferece, se isto for aplicável. Uma dica é propor que a pessoa diga como ela sugere complementar o pagamento, de forma que fique justo para ambas as partes.
O importante é você ter claro o valor do seu tempo, da sua formação, e não confundir as coisas. Uma palavra amigável, um acolhimento, um conselho, deve fazer parte de nossa conduta, independente de pagamento. Porém, psicoterapia tem tempo disponibilizado, habilidades adquiridas com muito estudo e investimento, técnicas exclusivas do psicólogo, e por isto tem preço! Mesmo que você decida doar seu trabalho, seu cliente tem que saber o que ele está ganhando.
Uma vez acordado, siga fazendo o melhor que puder, independente de qualquer coisa.
Nossa profissão será valorizada a partir do valor que dermos a ela, e da seriedade e competência que demonstrarmos em nossa conduta.
Luciana Lemos