Por mais estudos e pesquisas que foram realizadas até agora, ainda não se tem informações definitivas de como o cérebro adquire, armazena e evoque as informações, ou seja, memorize. O consenso entre os pesquisadores é que várias áreas do cérebro participam no processo de memorizar, depende do que o cérebro vai memorizar, que tipo de memória, e que o hipocampo tem uma função importante nesse processo.
Goldman, Klatz e Berger (1999, p.17) relatam que o órgão mais importante que o ser humano possui é o cérebro, e, o que “nos torna humanos é nossa mente consciente de todas as memórias, poder e sensações.” O cérebro, começa desde muito cedo a processar e armazenar muitos dados, e são esses dados que permitem realizarmos tarefas no dia-a-dia. Outro fator importante é que durante muito tempo achou-se que o cérebro era um circuito fechado incapaz de sofrer alterações, porém, estudos comprovaram que o cérebro tem notável capacidade de se expandir, de se regenerar, mesmo na idade adulta (Goldman, Klatz e Berger, 1999; Katz e Rubin, 2000;.Izquierdo, Vianna, Cammarota e Izquierdo, 2003, Izquierdo, 2007).
Pesquisas atualizadas sobre o sistema límbico, principalmente sobre o hipocampo, têm sugerido uma função no aprendizado, memória e cognição. O sistema límbico é composto pelo: córtex associativo límbico, hipocampo e a amígdala. O hipocampo tem esse nome devido a sua forma que lembra um cavalo marinho (grego hippos=cavalo, kampi=monstro). Está localizado bilateralmente nos lobos temporais. O hipocampo está envolvido na formação de memórias e na navegação espacial. É uma estrutura complexa e ocupa a porção medial do assoalho do corno temporal, formando um arco ao redor do mesencéfalo. Pode ser dividido anatomicamente em cabeça, corpo e cauda. Estudos comprovam sua participação na conversão da memória de curto prazo para longo prazo. Estudos de imagens do cérebro mostraram que quando uma pessoa lembra-se de algo, ocorre um aumento no metabolismo nesta região, e consequentemente no fluxo sanguíneo.
O hipocampo está situado no sistema límbico, sendo bilateral, tem várias funções, sendo que a principal é formar e evocar memórias e/ou de induzir o resto do córtex cerebral a fazer o mesmo. Para a formação e evocação da memória o hipocampo e suas conexões são as principais regiões do cérebro envolvidas (Izquierdo, 2007).
O córterx entorrinal está situado muito próximo do hipocampo, interliga-se ao córtex cerebral através de um número grande de fibras nervosas, bem como a amígdala cerebral ou núcleo amigdalino, O córtex entorrinal possui conexões de idade e volta com o córtex, a amígdala e o hipocampo. A amígdala cerebral, também fica no sistema límbico, e é um conjunto de células nervosas juntas. Esta situada dentro da região antero-inferior do lobo temporal, próxima ao hipocampo se interconectando com o mesmo. Também está próximo dos núcleos septais, da área pré-frontal e do núcleo dorso-medial do tálamo (Izquierdo, 2007; Cardoso, 2010).
O sistema límbico participa na contextualização da memória e nos processos emocionais, conjuntamente com o hipotálamo e a área pré-frontal. Portanto, falar de memória está intimamente ligado as atividades relacionadas à emoção, pois as “bases dos impulsos da motivação, principalmente a motivação para o processo de aprendizagem, bem como as sensações de prazer ou punição, são realizadas em grande parte pelas regiões basais do cérebro, as quais, em conjunto, são derivadas do sistema límbico” (Pantano e Assencio-Ferreira, 2009, p.25-26).
De acordo com Rocha (1999, p. 126) “a memória é o produto de atividade de um sistema neural distribuído” em que várias áreas do cérebro participam no processo, mas, segundo o autor, nenhuma delas é sede única desses processos. A memória envolve transações entre neurônios em sistemas neurais amplamente distribuídos no cérebro.
Para Katz e Rubin (2000, p.21) é o cérebro “que recebe, organiza e distribui informações para orientar nossas ações. Também arquiva informações importantes para uso futuro.” A parte do cérebro que é responsável pela memória, é o córtex. Além da memória ele também é responsável pela linguagem e pensamento abstrato. O hipocampo tem o papel de coordenar o recebimento de todas as informações sensoriais que vêm do córtex, organizando-as em MEMÓRIAS. É o hipocampo que vai “peneirar” as informações que a pessoa recebe, escolhendo as que precisa guardar e as que não precisam, estas serão descartadas. Ou seja, o hipocampo determina o que será arquivado na memória de longo prazo. Para que essas memórias sejam guardadas, é necessário que o cérebro faça associações. De acordo com os autores (p.28) “a maior parte do que aprendemos e lembramos baseia-se na capacidade do cérebro para formar e recuperar associações.” Por exemplo, se pegamos uma rosa, o cheiro ativa as partes olfativas do córtex, sua imagem ativa as áreas visuais e as pétalas macias ou os espinhos afiados, ativam o tato. Veja o esquema apresentado pelos autores: quando apenas vemos a flor, somente um número pequeno de circuitos neurais dentro do córtex visual é ativado. Se além de ver, cheiramos e tocamos a flor, o número de circuitos diretos e indiretos entre as áreas olfativa, visual e tátil é ativado. Quando esses vínculos associativos entre os sentidos se formam, vão ajudar na recordação, e, quando você vê novamente uma rosa, automaticamente, vai lembrar-se dela. As associações dessas sensações diferentes fazem com que muitas células nervosas, em áreas diferentes do cérebro sejam ativadas ao mesmo tempo.
Para Izquierdo, Vianna, Cammarota e Izquierdo (2003, p.99-100) “a memória é uma função do sistema nervoso”. Desde 1893, acredita-se que “as memórias consistem basicamente na modificação da forma, e, portanto, da função das sinapses que intervieram na formação dessas memórias.” Essas informações são aprendidas através dos sentidos e armazenadas em diferentes áreas cerebrais. Ou seja, áreas cerebrais diferentes processam tipos de memórias diferentes. Observa-se que em algumas doenças que afetam o cérebro, algum tipo de memória pode estar prejudicado.
Thompson (2005, p. 355) salienta que o cérebro armazena as informações adquiridas, e, quando necessitamos delas fica fácil o acesso a elas e sua utilização. As memórias podem ser individuais, mas nem por isso são armazenadas em células nervosas individuais. Segundo o autor as memórias são “codificadas e armazenadas por meio de alterações nos padrões e na excitabilidade das inumeráveis conexões sinápticas entre os neurônios cerebrais.” Cada parte do cérebro desempenha um papel importante nos diversos aspectos da memória. Para o autor, a memória, ou seja, a capacidade que o cérebro tem de armazenar e reter fatos, coisas, imagens, talvez seja o fenômeno mais extraordinário no mundo natural.
Para Tsien (2007, p. 40) pesquisador do aprendizado e da memória, para representar e gravar uma memória a partir das experiências do organismo, o cérebro depende de grandes populações de neurônios, trabalhando de forma coordenada. Resultados de diversas pesquisas indicam que “um fluxo linear de sinais de neurônio a neurônio não é suficiente para explicar como cérebro representa percepções e lembranças. As pesquisas indicam que “essas representações demandam atividade coordenada de grandes populações de neurônios.” De acordo com Potier, Billard e Dutar (2005, p. 15-16) através de registros de pesquisas verificou-se que o hipocampo tem função importante na memória, não na memória como um todo, mas em certos aspectos da memória, como a espacial, por exemplo. Porém, os autores afirmam que além do hipocampo, outras regiões do cérebro também desempenham função importante na memória: o córtex, o tálamo, a amígdala, o septum, o estriado, os bulbos olfatórios, o cerebelo, etc. Salientam que, “tanto a percepção de informações como a formação e utilização das memórias a elas relacionadas usam circuitos constituídos por várias estruturas cerebrais intimamente ligadas ao hipocampo.” Essa é uma noção de circuito ou rede neuronal, em que a memória não está localizada em uma única parte do cérebro, mas depende de um circuito. O hipocampo teria o papel de organizar a evocação dos componentes que estão separados para reconstituir a totalidade da memória.
Izquierdo (2004) em artigo publicado sobre a mente humana comenta sobre o hipocampo e a memória. De acordo com o autor, o hipocampo e o córtex subjacente (entorrinal) estão fortemente vinculados com a formação e a evocação da memória, como também registram os níveis de alerta e as emoções, que regulam sua função mnemônica. Ele afirma que a estrutura do cérebro que está ligada à memória e ao aprendizado é o hipocampo. E é no hipocampo que as informações de uma memória são associadas.
Tsien (2007, p.44-45) e colegas pesquisadores concentraram suas pesquisas sobre memória na região do hipocampo, com ênfase na região chamada CA1, que é importante na formação das lembranças de eventos e lugares. Esta região recebe dados de várias regiões do cérebro e sistemas sensoriais, isto influenciaria o tipo de informação um determinado clique codifica.
Os pesquisadores descobriram que “cada evento particular é sempre representado por um conjunto de cliques neurais que codifica características diferentes, as quais variam de gerais a específicas.” Clique “é um grupo de neurônios que responde de forma semelhante a um evento específico e assim opera coletivamente como uma unidade robusta de codificação.” Os autores acreditam que os cliques neurais “servem como unidades funcionais de codificação que dão origem às lembranças.” Segundo estudos eles concluíram que o cérebro “emprega cliques codificadores de memória para discernir e registrar diferentes características de um mesmo evento basicamente arranjando a informação em uma pirâmide cujos níveis são organizados hierarquicamente”, ou seja, organizam em conjunto as atividades vivenciadas, por exemplo, todos os acontecimentos assustadores. Cada pirâmide de codificação de memória inclui sempre cliques que processam em vez de excluir a informação, também reforça a idéia de que o cérebro não é um dispositivo que apenas grava os detalhes de um dispositivo em particular, na verdade, os cliques neurais deixam que o cérebro codifique características-chaves de incidentes específicos, ao mesmo tempo, extraindo informação geral do incidente. É essa capacidade de gerar conhecimento e conceitos abstratos a partir de eventos diários, permite ao homem solucionar problemas novos. O autor dá um exemplo do conceito “cama” – em qualquer quarto ou local que tenha uma cama, do modelo que for, simples, sofisticada, a pessoa vai reconhecer que é uma cama. Isto ocorre devido “a estrutura de nossos conjuntos codificadores de memória que nos permite reter não apenas a imagem de uma cama específica mais a idéia geral do que uma cama é” (Tsien, 2007, p.46). Thompson (2005, p. 354) apresenta um esquema hipotético do sistema de memória humana (figura 5) em que a memória se procederia da seguinte forma: “as informações sensoriais, englobando aquelas sobre movimentos aprendidos, entram em um registro sensorial ou memória “icônica”, onde são conservadas em detalhes por um breve período. Algumas destas informações são transferidas para um armazenamento de memória de trabalho de curto prazo. Algumas informações visuais são também transferidas diretamente da memória icônica para a memória de longo prazo ou permanente. Algumas destas informações da memória de trabalho de curto prazo podem ser transferidas para a memória de longo prazo, normalmente por repetição ou prática.” Continua o autor afirmando que “as lembranças da memória de longo prazo são continuamente transferidas para a memória de trabalho…. grande parte das informações da memória icônica e de longo prazo não é armazenada e simplesmente se perde. Quando você se lembra de algo, isto é recuperado do armazenamento da memória de longo prazo para a memória de curto prazo, ou memória de trabalho.” O resultado de todos estes processos é o desempenho, o quanto a pessoa lembra.
Marschall (2008, p.40) salienta que “ao nos lembrarmos de algo, vias neurais são ativadas; se isso acontece com frequência, o cérebro preserva a informação”, ou seja, quanto mais vezes nos lembramos de algo, mais o cérebro considera a informação importante, sendo que esta informação é convertida em memória de longo prazo, com a formação permanente de conexões entre os neurônios. Para a formação de uma memória é necessário modificações nas conexões das redes neuronais.
E quando precisamos evocar o que está arquivado em nosso cérebro, evocar a memória de algo, o que fazemos? Izquierdo, Vianna, Camarrata e Izquierdo (2007, p.103) afirmam que para que nosso cérebro atue para evocar uma lembrança, pelo menos seis estruturas cerebrais interligadas participam: o córtex pré-frontal, o hipocampo, os córtices entorrinal, parietal e cingulado anterior e a amígdala basolateral. O hipocampo, o córtex entorrinal, parietal e cingulado ativam diferentes receptores glutamatérgicos e de pelo menos duas grandes vias enzimáticas: a PKA e a ERKs para que ocorra a evocação de algo. É importante lembrar que o material que lembramos nunca é o mesmo que fixamos, pois ele sofre alterações no processo de conservação, pois cada indivíduo acrescenta características pessoais aos elementos armazenados (Pantano e Assencio-Vicente, 2009).
Fonte: www.portaleducacao.com.br