As descobertas das Neurociências, agregaram importantes conhecimentos aos estudos do neurodesenvolvimento e trouxeram valiosas contribuições à educação infantil
por Maria Irene Maluf
A maioria das mudanças ocorridas na educação e na escola teve como base, além da demanda social, as exigências decorrentes das transformações econômicas e políticas que cada país e o próprio mundo vivenciaram no seu trajeto histórico.
A partir do século XIX , a educação foi sendo organizada de modo paulatinamente mais sistematizado e, principalmente após as duas grandes guerras mundiais, as transformações que ocorreram na economia e na sociedade, as descobertas das ciências, especialmente na área da saúde, o incremento da indústria, do comércio, entre outras, geraram algumas das mudanças mais profundas a que o mundo assistiu e que, também, alcançaram a escola.
Por outro lado, esses conflitos de grandes proporções deflagraram o aparecimento de encargos financeira e socialmente importantes, além de uma crescente necessidade de dar acolhimento a um número expressivo de órfãos, viúvas e sequelados de guerra.
Muitos países precisavam ser reconstruídos e as crianças representavam, mais do que nunca na história, o futuro das nações. Decorrente disso, à preocupação com a sua saúde física, se juntou à inquietação com a saúde mental e se intensificou o empenho de cercar a infância com mais cuidados, uma educação cada vez mais organizada, capaz de estimular o desenvolvimento desde a mais tenra idade.
É inegável, também, que a entrada das mulheres no mercado de trabalho tenha gerado uma outra grande revolução na história da infância: cada vez mais foram necessários serviços dedicados exclusivamente às crianças e despontaram inúmeros centros de estudo, nos quais pesquisadores de diferentes áreas focaram seus trabalhos na valorização dos cuidados e da estimulação necessária para a criança em todas as fases de seu crescimento.
Ao longo do tempo, tomaram vulto as novas descobertas das ciências em termos do neurodesenvolvimento e, os estudos das Neurociências passaram a ser parceiros da educação, na medida em que a experiência mostrou a importância de se agregar à aprendizagem infantil uma nova dimensão na sua concepção e na prática, baseada em achados científicos.
A partir do momento em que se começou a reconhecer a importância dos primeiros anos de vida, como base embrionária de todo desenvolvimento físico e mental, vários movimentos foram levados a todas as esferas do poder público e a educação infantil passou a ser legalmente avaliada como obrigatória e considerada a primeira etapa da educação básica.
Como dever do Estado e das famílias, a matrícula de todas as crianças na educação infantil, legalmente, passou a não poder ser negligenciada. Mas este passo, apesar de importante e significativo, não é o bastante para diminuir a questão central que esta demanda encerra em si: a qualidade da educação infantil, a formação de seus professores e a orientação às famílias.
PREJUÍZOS NA ESTIMULAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO NOS PRIMEIROS CINCO ANOS DE VIDA PROMOVEM UM EMPOBRECIMENTO NAS APRENDIZAGENS FUTURAS, ALÉM DE COMPROMETER A FORMAÇÃO DA PESSOA, DO CIDADÃO, DO TRABALHADOR
Vemos nos textos da lei e também (e infelizmente) no dia a dia que não é incomum professoras menos experientes, ou até sem formação universitária ou especialização no ensino infantil, assumirem classes nas creches e pré-escolas, ou seja, justamente na educação de crianças que precisariam de professores tão ou mais preparados do que aqueles que estes alunos provavelmente encontrarão nas etapas seguintes da sua escolarização. A formação de base exige conhecimento amplo e profundo de quem a planeja e executa.
Sabe-se, hoje, pelos estudos da ciência – da Neurologia, das Neurociências -, que as competências adquiridas em uma determinada etapa do ciclo de vida afetam, permanentemente, a aprendizagem na próxima fase da vida (Jack P. Shonkoff e deborah A. phillips, 2000). Os primeiros cinco anos de vida são decisivos para o bom desenvolvimento do cérebro, pois é nessa fase que ocorre o crescimento mais acentuado da estrutura cerebral e se instalam, inclusive, diferentes habilidades indispensáveis para a aprendizagem escolar.
Prejuízos na estimulação do desenvolvimento nessa idade, por serem de caráter irremediável, promovem empobrecimento nas aprendizagens futuras, e podem comprometer o desenvolvimento pleno da pessoa, do cidadão, do trabalhador.
Além de uma excelente formação universitária, o professor da creche e da escola infantil, como qualquer outro profissional da educação, deve ter oportunidade de participar, frequentemente, de programas de capacitação, de cursos de especialização que levem em conta os atuais conhecimentos científicos sobre o desenvolvimento infantil e as melhores formas de trabalhar, pedagogicamente, com todas as crianças, inclusive aquelas com Necessidades educativas especiais, cujos primeiros sinais já se delineiam nessa fase da escolaridade.
Tão importante quanto construir e equipar escolas ou contratar maior número de professores, sem dúvida, é oferecer a esses profissionais melhor e continuada formação acadêmica e, assim, poder realmente dar às nossas crianças, as oportunidades educacionais a que toda pessoa tem direito.
Fonte: Portal Ciência e Vida
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