Terapia de Busca do Trauma - Ciclo CEAP
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Terapia de Busca do Trauma

Um tipo de terapia popular entre psicólogos que assumem que os problemas dos pacientes como bulimia, depressão, inibições sexuais, etc., se devem a experiências traumáticas da infância de natureza sexual que foram reprimidas.

A terapia consiste de métodos, especialmente hipnose, para ajudar o paciente a “recordar” o acontecimento traumático.

No tempo de Freud, o trauma geralmente envolvia o ter assistido a adultos praticarem sexo. Hoje em dia, geralmente implica a criança ter sofrido abusos sexuais. O problema com este tipo de terapia é que o trauma que é “recordado” é muitas vezes criado na terapia pela imaginação do paciente com a assistência e o encorajamento ativo do terapeuta.

Claro que existem pessoas que sofreram nas mãos dos pais. A maioria deles recorda as tareias, violações, torturas, e os terapeutas conseguem ligar o abuso a efeitos psicológicos. Mas existe uma grande distância entre estes factos e o tipo de terapia defendida por criadores de mitos pseudocientificos como Ellen Bass, Laura Davis, Wendy Maltz, Beverly Holman, Beverly Engel, Mary Jane Williams e E. Sue Blume.

Terapeutas que acreditam a priori que a maior parte das pessoas que os procuram têm problemas que se devem a memórias reprimidas dos traumas sexuais da infância são pseudo-terapeutas. Estão no seu pior quando analisam crianças sem problemas. Os seus métodos destinam-se a levar o paciente até ao trauma sexual que é pressuposto pelo terapeuta ter existido.

Comum é o uso de questões orientadas, hipnose, sugestão, encorajamento para procurar a alegada “mente inconsciente” ou para interpretar sonhos de modo que leve o paciente a acreditar que a confabulação e as fantasias que emergem na terapia são memórias de realidades reprimidas. Os pacientes são adultos que estão perturbados ou crianças que ficarão perturbadas pelo terapeuta. Os terapeutas encorajam a dependência dos seus vulneraveis e sugestionáveis pacientes. Não serão curados ou soltos até o paciente ver o que o terapeuta quer que ele veja. Isto é uma forma de lavagem ao cérebro psicológica com o nome de tratamento.

“Em vez de ajudar o paciente a separar verdade da fantasia,” diz o psicólogo Joseph de Rivera, “o terapeuta encoraja o paciente a “recordar” mais acerca do alegado trauma. E quando o paciente tem uma imagem–um sonho ou uma sensação de que algo pode ter acontecido– o terapeuta sente-se ancorajado, louva o esforço do paciente e assegura-lhe que isso aconteceu mesmo.” (Joseph de Rivera, The Sacramento Bee, 18 Maio 1993.

De Rivera criou o termo trauma-search therapy para o tipo de tratamento pseudocientifico aqui descrito. É professor de psicologia na Clark University em Worcester, Massachusetts, e consultor da False Memory Syndrome Foundation.) Este tipo de terapia, afirma, “confunde a diferença entre abuso real e fantasiado e encoraja a destruição de familias.” Nota que a American Psychological Association (APA) nomeou um comité para investigar o tema das memórias infantis de abusos.

É impossivel dizer o efeito que a investigação da APA terá, mas é necessário que alguém se levanta em defesa dos adultos que são abusados pelos “caçadores de bruxas”, os que estão predispostos a encontrar abusos. A razão porque poucos se levantam é óbvia: há boas razões para acreditar que serão vistos como amigos dos abusadores e inimigos das crianças. O Supremo Tribunal dos EUA, por exemplo, recusou em Nov de 1994 uma apelação de Bill e Kathy Swan que passaram 50 meses na prisão e a quem retiraram a filha com base no testemunho oral de educadoras de infância.

A criança não testemunhou nem tinha qualquer evidência física de abuso. O tribunal não comentou a recusa mas em 1990 decidiram que os réus de abuso infantil põem ser condenados sem poderem confrontar os acusadores e com base em testemunhos orais fiáveis. Uma lei tão ampla abre caminho a abusos por ultrazelosos acusadores e outros alegados defensores das crianças.

Professor Charles Nesson de Harvard, especialista que apresentou um suporte ao apelo, chamou à recusa do Supremo “o mais extremo exemplo de erosão [da garantia constitucional de que os defensores teem o direito a confrontar as testemunhas] que conheço. Parece que o Supremo está a dizer que as pessoas podem ser condenadas sem um esforço razoável para descobrir se o abuso realmente existiu ou não. Provas por ouvir-dizer (hearsay) de uma “fonte fiável” (reliable source) é tudo o que é necessário. A natureza emocional deste assunto provavelmente garante que raciocínio claro e justiça se subordinam ao desejo de defender crianças inocentes.

A decisão do Supremo Tribunal abre tambem a porta a acusadores sobrezelosos e defensores da lei que são receptivos ao mesmo chamamento que os terapeutas de busca do trauma. Estes policias destruíram mais de uma comunidade, incluindo Wenatchee na área rural do estado de Washington. Existe um grupo local formado para combater estes policias e terapeutas. O grupo auto-intitula-se Concerned Citizens for Legal Accountability, mas é muito mais que isso. É um alojamento na web para histórias de abuso legal e psicológico de policias, serviços de proteção de crianças e terapeutas. As pessoas de Wenatchee sabem que o que lhes aconteceu pode suceder em qualquer outro lado.

Tudo o que é preciso é um policia zeloso (no caso o detective Bob Perez) para iniciar as coisas e ele pode transformar as mentiras e fantasias de um jovem numa arena de sexo envolvendo 30 a 50 crianças em orgias numa igreja dirigida pou um pastor e a sua mulher. É bom saber que o Pastor Robert Roberson e a sua mulher, Connie, foram considerados inocentes de todas as acusações. As más noticias é que as suas vidas e as das crianças foram arrasadas por um cruzado fardado e os seus cumplices no Child Protective Services e no District Attorney. Perez e Gary Riesen, acusadores, acusaram mais de 80 adultos por terem orgias semanais com crianças.

Mais de 25 decidiram dar-se como culpados de várias acusações, apesar de alguns, como o pastor e a sua mulher, terem lutado contra a acusação, arriscando a prisão e a perda dos filhos. Muitos dos acusados são quase analfabetos. Onze pessoas foram condenadas após julgamento. Cinco são atrasados fisicamente, dois têm graves problemas emocionais, dois têm deficiencias físicas e outros dois são doentes mentais. “Isto não exclui a possibilidade de serem culpados, mas sublinha o facto de Perez e seus colegas terem perseguido pessoas vulneráveis.” [Brott, Bee]

Ao contrário dos Swans, que perderam a filha e foram presos por mais de 4 anos, a caça em Wenatchee não começou com as acusações de um trabalhador mentalmente doente. Em Wenatchee começou com acusações de uma rapariga de 15 anos com um QI de 60 que tentou matar o padrasto porque este não a deixava ter sexo com o namorado em casa. Quando Perez acabou de interrogar a jovem, esta tinha acusado o padrasto de anos de abusos sexuais. Mais tarde ela recuou nas acusações.

Então Perez foi atrás da sua meia-irmã de 10 anos e quando acabou de a interrogar ela tinha identificado 22 lugares onde dizia ter sido molestada, incluindo a igreja do Pastor Roberson. Roberson cometeu o erro de falar publicamente sobre Perez e os seus métodos de interrogatório. Cinco dias após a denuncia publica, Roberson e a sua mulher foram presos acusados de praticarem orgias semanais na sua igreja.

Pensar-se-ia que tem de haver alguma verdade nas acusações de Perez. Contudo, para lá da sua palavra e de testemunhos de crianças que foram interrogadas por Perez, as provas de abuso não existem. Perez não guarda notas, áudios ou vídeos dos interrogatórios.

Talvez tenha aprendido com o julgamento de McMartin que essas gravações podem ser demolidoras ao mostrarem os interrogadores a dirigirem e usarem coação sobre as crianças. Mais, existe o testemunho de crianças que não alinharam. Uma afirma que ele ameaçou prender a mãe se ela recusasse admitir ter sofrido abusos.

Outra afirma que ele a fez mentir. Outra foi trazida da California para Washington pelo próprio Perez, e colocada numa instituição mental em Idaho onde a “trataram” porque não testemunhava que os pais tinham abusado dela. Quando continuou a negar foi-lhe dito que estava em negação e que em breve o reconheceria.

O acusador Riesen nota: “olhem para as condenações que obtivemos. Se Perez não seguisse as regras, os tribunais teriam algo a dizer.” Nenhum juiz quer aparecer como amigo de abusadores. Poucos crimes são mais repulsivos que abuso de crianças. Estou certo que Perez e Riesen sairam disto como santos guardiões porque é nisso que acreditam.

E não estão sozinhos: médicos, enfermeiras, educadores, juízes e juris. A Prova aqui não interessa. O que importa são as crianças. E, sim, é a criança que está a sofrer abusos aqui, mas não são os unicos. É horrivel pensar que pode ser o próximo a ser culpado mesmo se provar a inocência e que todos podem sofrer abusos de um sistema legal que enlouqueceu.

 

Fonte: Skepdic Brazil

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