“Qualquer barulho lembra aquela noite”. Essa é a sensação do pedreiro Luiz Cláudio Ramos Fonseca, que perdeu a casa onde morava na região conhecida como Buraco do Sapo, em Itaipava, distrito de Petrópolis, uma das cidades da região serrana do Rio de Janeiro mais atingidas pelo temporal do último dia 11. De acordo com os psicólogos, esse tipo de trauma é comum após experiências em situações de desastre, como os deslizamentos e enchentes na serra, que deixaram centenas de mortos e milhares de desabrigados e desalojados.
Segundo o psicólogo Othon Vieira Neto, especialista em emergência e crise, as pessoas que sobreviveram a tragédias como essas têm perdas rápidas e inesperadas de familiares e bens pessoais.
– Cada amigo, parente e até objetos fazem parte da história das pessoas. Quando elas perdem tudo, é como se tivessem perdido a identidade.
De acordo com Neto, em relação aos pertences, não são os objetos caros que fazem mais falta.
– As pessoas se emocionavam mais com a perda dos álbuns de fotos do que qualquer outra coisa simples. E isso não dá para recuperar e nem comprar de novo, como uma televisão ou um sofá.
Além disso, a própria situação de perigo gera um trauma para os sobreviventes. É o que os psicólogos chamam de transtornos pós-traumáticos. No caso do pedreiro, certos barulhos o fazem lembrar a noite da chuva.
– Outro dia o portão da quadra do abrigo onde estou dormindo caiu e fez um barulhão. Acordei tremendo. Por enquanto, vou ficar por aqui, mas não quero voltar a viver por essa região.
A fuga da cidade também é natural. Segundo Neto, a relação do morador com o lugar onde vive é muito forte.
– Há ponto como praças, padarias, áreas de lazer que fizeram parte da vida da pessoa e ajudaram a construir momentos da trajetória dela. E passar por aqueles lugares e não achar mais aqueles pontos de referência provoca um vazio. Esses transtornos também são caracterizados por lembranças constantes da situação de perigo, medo exagerado da repetição da situação, dificuldades de concentração e memória; e sentimento de culpa.
Para a psicóloga Patrícia Adnet, o maior desafio dos profissionais de saúde que vão trabalhar junto com as vítimas é mostrar o sentido de viver novamente após o trauma.
– O psicólogo vai ter que ouvir o desabafo, o choro e acolher esses moradores. Eles vão intervir no sentido de ajudar a construir uma nova identidade porque muitos não querem mais viver porque eles até entendem que podem recuperar a casa, mas não a família que morreu.
O objetivo é prestar atendimento precoce e evitar uma doença psicológica futura. De acordo com Neto, esses pós-traumas acontecem geralmente depois de uma situação de violência, de guerra ou de perda inesperada.
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